sábado, 28 de setembro de 2013

Quero dizer umas coisas antes de partir



Por mais que eu diga, berre, fale, as palavras sempre serão poucas. Talvez por isso uso as mãos, o tom contralto, olhos e boca bem abertos. Porém você tem sentado ao meu lado para me ouvir e segurar minhas mãos, com um abraço do tamanho do mundo, sem ao menos perguntar o porquê do meu silêncio.

E assim seguimos. Não consigo sorrir nem gritar como antes, mesmo você insiste em me chamar para dançar, ver o por-do-sol, sentar numa mesa de bar e ver o cotidiano se movendo. Não contente, abre as janelas da minha casa e da minha alma para que entre os raios solares, a música e todo som de vida.

Beijo para "você" que salvou-me da morte, da solidão e da amargura. Essa "segunda pessoa do plural" tem me mostrado o quanto vale a pena andar de mãos dadas, ombro a ombro. Se até os soberanos precisam de um amigo, ainda mais eu, que sou mortal e errante... É quem mais preciso.

Obrigada pela "presença teimosa" em minha vida. Amo muito vocês. Orem por mim.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não enlouqueci, acredite!



Esses últimos dias foram de muita efervescência: manifestações, lutas sociais, futebol, festividades juninas e muita análise crítica. Dias de muito suor, sangue, bomba de gás lacrimogênio, forró, realidades paralelas e desiguais.

Tudo isso me leva a vários pensamentos e questionamentos. Em cada um desses espaços, repensei qual o meu lugar nisso tudo e quais posturas e ações a serem encaminhadas?  qual país eu quero (ou não quero) viver?

Vejo que a vida, e não só as pessoas com quem convivo, sempre pedem uma resposta ou fomentam uma discussão na qual preciso expressar meu pensamento, minha revolta e/ou descontentamento, daí percebo que a tão sonhada neutralidade ou estado de imparcialidade não existe. Não cabe mais ficar em cima do muro A criticidade, a revolta, a tristeza e impotência diante de um status quo me incomoda e mobiliza a pensar qual minha (verdadeira) função social.

Bem que tentei descansar, relaxar, ficar imune às discussões e enfrentamentos. Tudo em vão, e alternativa não restou: tive que opinar, falar, criticar, verborragizar constante, como se minha vida dependesse disso. E de fato depende. Depois das vivências ao longo da trajetória, vejo que não posso ser neutra, indiferente ou ambígua. Tenho que falar, escrever, dizer, jogar pedras, caminhar pelo espaço. Assim manter-me-ei pulsando, viva. E só os vivos caminham em direção à mudança.

Por outro lado, não escolhi ser assim. A Vida, a Poesia e o Universo conspiraram contra mim. E até hoje conspiram, inquietam, tiram meu sono, “apertam minha mente”, motivam meu grito, meu riso e meu choro.

Achei que eu estava ficando doida, mas não. Estou dialogando com o mundo e ele está em constante movimento. Numa instigação contínua.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Resolvi sepultar-te

Depois de dias e noites ao teu lado, chorando, amargando, adoecendo, resolvi dar um basta.

Cansada de ouvir suas mentiras, ver você "transitando" com outras mulheres, decidi matar-te. Sem sangue, sem corpo, sem inquérito nem manchete no jornal. Sim, a partir de hoje você está morto, com direito a lápide, velas, carpideiras. O sofrimento é grande, mas melhor gozar a viuvez do que a infelicidade desta convivência.

Os teus e os meus amigos já não sabem mais agir quando me veem cruzar a rua. Esquivam-se, escondem-se como testemunhas negligentes do adultério. Mas como adultério, se nunca fostes meu? Tranquei a nossa casa e fui passar um tempo com parentes, até a poeira baixar. Inclusive, tive o cuidado de trocar as fechaduras, para garantir que, ao voltar, não me esbarre contigo na sala de estar.

 De você só quero o que foi bom: o riso, a lágrima de felicidade, as imagens boas que deixou em minha memória, o calor do corpo, as palavras que de doces acalmaram o espírito.
Teu corpo jaz frio no sepulcro, mas ainda ouço sua voz pela casa. Que Deus me dê forças para remover tuas coisas, jogar fora o que não serve, doar o que pode ser reciclado, receber as condolências, os abraços de consolação e os votos de força e fé.
Limpar a casa, dizer aos amigos distantes que você se foi. Rasgar suas fotos, seus manuscritos. Acender uma vela por sua alma, para que os teus deuses conduzam-na para o lugar que acreditavas ir "pós-mortem".

Descanse em paz, meu amor. Amei-te na vida, e sei que estarás melhor do que eu, num plano superior, no Orum ou na floresta.

Prometo não chamar teu nome em vão, nem designa-lo para outra pessoa.

Que a morte nos separe, pois quero viver muitos anos. Evitemos uma eternidade de trovões, raios e tempestades.

Amar-te-ei enquanto o Amor e a lembrança forem presentes.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Carta para certo machão


Meu Querido Titã,


Hoje acordei e seu corpo não estava na cama. Levantei, fui ao banheiro iniciar meu ritual cotidiano, afinal hoje é um dia como outro qualquer. Olhei meu celular e vi uma mensagem sua, parabenizando-me pelo dia internacional das mulheres. Sentei na cama, vieram lágrimas nos olhos, pois lembrei as duras palavras ouvidas no dia anterior, as comparações e isso me fez pensar sobre o que é “ser uma mulher” e seu lugar num mundo em constante ebulição e num tempo de busca de visibilidade e afirmação identitária. Enquanto me vestia, arrumava minha bolsa e via meus e-mails, tentava formular uma resposta para meus questionamentos. 

Entendo que ser mulher é uma experiência interessante. É poder interpretar vários papéis ao mesmo tempo, transitar por variadas situações e lidar com a própria intensidade. É ser regida pela combinação de intuição, hormônios e sentimentos. É sorrir escancaradamente, chorar vendo um filme romântico, com o nascimento de um filho ou com a partida de alguém. Mulheres lutam com a elegância de quem vai a uma festa. Lindas, cheirosas, determinadas. Às vezes somos fúteis, outras vezes engajadas, mas nunca menospreze nossos sentimentos, muito menos nossa capacidade de ler o mundo e os sinais que vocês nos dão.


Somos capazes de amar muita gente ao mesmo tempo (pais, namorado, marido, amigos, amigas, irmãos), e estamos atentas às necessidades de todos, mas também precisamos de  carinho, daquele mimo, de um abraço gostoso, um beijo apaixonado, um olhar de compreensão e ouvidos atenciosos. Parece muito? Não é não rsrsr.


Também sofremos com as injustiças do mundo, a desvalorização do nosso trabalho, a violência contra nosso corpo e autoestima. Choramos quando perdemos um ente querido, quando nossos filhos estão doentes, quando o bem amado está longe ou até mesmo vendo pessoas que gostamos passando por problemas. Em alguns momentos, uma ofensa ou xingamento parte nosso coração do mesmo modo que um soco em nosso rosto.


Sejamos razoáveis. Somos diferentes e acredito que por isso nos completamos. Você é a personificação da razão, mas a minha intuição te ajuda em muitas coisas. Jamais pensei em me separar de você por causa daquela toalha molhada, da bagunça ou  quando você enche a casa de amigos para um churrasco ou jogar Playstation. Porém fico “emputecida” quando eu preciso de um carinho, só do seu ombro e você diz que é “piti” ou “ataque de bipolaridade”. Quando você me abraça, me conta o seu dia, chora ou se queixa da solidão, não deixa de ser o homem da minha vida. Pelo contrário. É nessa hora que tenho a certeza de que estou do lado do cara mais bacana do mundo. A sensibilidade e bom humor é o ângulo mais lindo da tua personalidade.


Olha, tem comida na geladeira, a sua skol tá no freezer. Hoje é dia internacional das Mulheres, vou celebrar com as amigas. Nos vemos à noite.


Beijos


Helena, Afrodite, Frida, Dandara, Mainha, Janaina, Madalena, Pagu, Ângela, Morena, Rosa, Amélia, Luna, Capitu, Virgínia, Clarice, Cecília, Luiza, Maria... Ou simplesmente sua MULHER!